quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sobra a Bestialidade Humana




Sábado a noite. Depois de um dia cheio de trabalho, recebo uma ligação do meu pai, me convidando para ir ao show do Zé Ramalho, num espaço chamado Internacional Eventos, em Guarulhos.

Um ótima oportunidade para reunir minha família – coisa cada vez mais rara, visto que vivemos numa competição pra ver quem trabalha mais.

Fomos todos: mãe, pai, irmã, cunhado e eu.

O show estava marcado para começar às 23:30. Chegamos às 22:40.

O estacionamento custava R$15. O show R$100 – estudantes e doadores de 1 quilo de alimento pagavam meia entrada.

Nosso ingresso era de pista, mas não imaginei que ficaríamos em pé, num esquema show de rock. Mas estava tudo bem, eu estava na feliz e agradável companhia da minha família.

Meia-Noite – Uma da manhã, já que era o início do horário de verão – e nada do show.

Percebi que não tinha música ambiente e que a movimentação no palco era intensa.

Tudo bem, meia-hora de atraso é um tempo aceitável.

1:30 e nada do show. Nenhuma explicação. Público ficando impaciente.

Minutos depois começaram as vaias.

E, finalmente, uma explicação: o gerador havia parado de funcionar – por conta da chuva que caiu forte sobre a cidade - mas que o problema já estava sendo resolvido. O som voltou a funcionar, faltava a iluminação.

Colocaram uma música ambiente para distrair a plateia, mas, meia-hora depois o público voltou a manifestar seu descontentamento, com vaias e um coro que dizia “eu quero meu dinheiro”.

O problema no gerador era autêntico, eu mesma fui conferir se não passava de uma desculpa. Mas a produção errou quando, com quase duas horas de atraso não sugeriu ao público a devolução do valor do ingresso e a remarcação do show. Aliás, ao primeiro sinal de falha técnica desta amplitude, o show deveria ter sido cancelado.

Mas a ambição da produção gerou a fúria nas pessoas.

O espetáculo começou na plateia: um espectador já bêbado e furioso com o atraso do show começou a chacoalhar as grades que protegiam a cabine de som e luz. Aos gritos, ele ameaçava quebrar tudo.

A segurança tentou contê-lo e, nessa hora, cerca de 30 pessoas partiram para cima da segurança. Motim instaurado, a segurança não tinha mais o que fazer.

Latinhas voaram aos montem em direção ao palco. O mesmo cara que tinha anunciado o problema pedia calma, mas sequer foi ouvido.

Em pouco tempo as grades que separavam pista de mesas foram arrancadas e eram atiradas ao chão. Os técnicos, sem ter outra alternativa, abandonaram a cabine e todo o seu equipamento.

Um canhão de luz, que estava no alto de uma mesa, foi derrubado.

Meu coração começou a doer com o prenúncio do que estava por vir. Eu sou iluminadora e fiquei desesperada com a possibilidade de quebra-quebra, por saber o valor e a importância dos equipamentos. E, mais ainda, por saber que a produção do Zé Ramalho, nada tinha a ver com tudo aquilo. A falha foi da produção local – que aliás, vale dizer, foi da POLIM PRODUÇÕES, sob o comando do senhor Sérgio Polim.

As cenas que se seguiram me fizeram chorar. Parece imbecil, mas eu vivo de arte, shows, eventos, peças de teatro. Podia ser um dos meus trabalho naquele momento, e mesmo não sendo, eu tenho respeito e admiração pelo trabalho dos outros.

A cabine estava completamente desprotegida. Um dos vândalos – é assim que vou chamar o público daqui pra frente – pegou um pedaço de ferro com uma ponta e começou a martelar a mesa de som. Eu pude ver os botões voarem. Ele, furioso, parecia feliz com o resultado do seu ‘trabalho’. Animados com a cena, outros vândalos se aproximaram e viraram a mesa onde estavam os equipamentos de som e luz. Foi tudo para o chão. As tomadas produziram faíscas e eles se afastaram. Um segurança, que ainda queria fazer alguma coisa, pegou um extintor e disparou em cima deles.

Do outro lado, outros vândalos quebravam mesas e cadeiras e atiravam várias delas em direção ao palco.

Um grupo foi em direção ao caixa e ameaçou um saque. Mas desistiram ao ver que aquela estrutura estava firme.

Do lado de fora, os vândalos saqueavam os alimentos doados. Enchiam sacolas e se acotovelavam para ver quem conseguia pegar mais coisas.

A polícia contava com um contingente grande, mas nada fez. Ficou o tempo todo posando do lado de fora.

Enquanto isso, lá dentro, quatro rapazes corriam em direção ao palco. Eu pude ver o desespero dos técnicos que lá estavam pegando tudo o que pudessem salvar. Os animais subiram no palco e começaram a quebrar os instrumentos...

Eu podia ter vivido sem ver essas cenas. Não me acrescentou nada e me fez ter medo de gente.

O limite entre a sanidade e a brutalidade é muito tênue.

Fiquei com medo de multidões.

Fiquei com medo do futuro.

Ninguém procurou saber de quem era a culpa e foram logo quebrando tudo com uma voraz felicidade.

Fiquei com nojo daquelas pessoas.

Me envergonhei por fazer parte da mesma espécie...

PS: Eu tirei dezenas de fotos deste ‘espetáculo’, mas nem quis revê-las...


6 comentários:

Mariana disse...

Me coloquei no seu lugar, me imaginei com a minha família nesse lugar. E a gente ainda pensa que o público do Zé Ramalho é um público que ainda pode-se esperar algo decente! Já estive em shows de Rock com molecada e muitas vezes tinham jovens fumando maconha ao meu lado, sempre que esses shows atrasavam, ou dava algum problema a galera apenas saia de lado, ou ia embora, ou até mesmo vaiava. Mas nunca vi uma manisfetação de animais igual a que você presenciou!! É uma pena enorme, eu sinto muito por você e pela sua família!

beijos

Norma Odara disse...

Eu estava lá. Lamento o ocorrido, falha da produção e brutalidade de alguns da platéia.
Realmente foi um corre-corre, e violência desnecessária :/

Eu fiquei esperando uma resposta até as 4 da manhã,formamos fila do lado de fora e pelo que parece o show será remarcado para o dia 1ºde novembro.
Mas agora quem vai querer voltar?

Luizfm disse...

Claudinha querida, onde vc foi se meter. Show em Guarulhos? Não tem como dar certo. Aqui não tem casa de espetáculo. Nem o carnaval de rua eles conseguem organizar.

Agora, se estiver afim de um pagode, aqui do lado de casa tem um lava rápido que faz barulho 24 horas. De segunda a domingo. É fácil de chegar, fica a 100 metros do comando da polícia.

Pergunta se alguém faz alguma coisa. A gente reclama e é ridicularizado.

O Brasil não tem jeito e Guarulhos menos ainda...

Luiz Silva disse...

Olá Claudia,

antes de mais nada, quero que saibas que adorei seu blog e me identifiquei muito com seus textos. De fato, é um tanto complicado encontrarmos atualmente blogs que tenham bons conteúdos a serem acrescentados, em meio a tanta podridão que encontramos na web.

Lamento muito pelo ocorrido descrito neste post e acredito que você não poderia ter escolhido título melhor para isso do que "Bestilidade Humana". Também trabalho com produção de shows e eventos e juro que meu coração palpitou só em imaginar a selvageria que você relatou. Infelizmente vivemos em um país que ainda não aprendeu o significado da palavra "respeito". E foi por falta desse respeito, que pessoas que não tinham culpa alguma pelo atraso do show (técnicos de som, iluminação e palco) acabaram saindo prejudicados. Isso me deixa muito triste, mas, infelizmente, é a plena realidade.

Parabéns pelo blog e pelo seu trabalho GENIAL de iluminação. Muito obrigado pelo relato e pelos textos lindos. Mantenha o belíssimo trabalho! Bjs querida.

pati romano disse...

Nossa, que horrível. Realmente, olha o ponto em que chega a bestialidade humana, eu que nem tenho nada a ver com nada fiquei chateada com o que fizeram com os equipamentos, imagina o pessoal que organizou tudo isso.
Beijos,
Pati

ne disse...

A Polim Produções falhou com a segurança do Show do Fábio Jr. no Clube Atlético Juventus dia 27/08/2011...O pessoal que comprou a mesa(600,00 reais p/4 pessoas) não poderiam ficar em pé..para não atrapalhar a visão das outras pessoas...eis que algumas moças qdo estava sendo cantada a música Alma Gemea (Vide Yutube) começou um quebra-quebra...elas levantaram e o pessoal pedia p/sentar e um senhor jogou água nelas e elas revidaram jogando cadeira em cima do senhor ....ai começou um verdadeiro BARRACO...até os seguranças chegarem(eram poucos) o pau correu solto.....Fiquei decepcionada já que era a Ala dos Vips....e a falta de seguranças foi pior ainda......Acho que o Fábio Jr. deveria ter outra Produção cuidando do seu Show....LAMENTÁVELLLL!!!!