segunda-feira, 5 de abril de 2010

À Minha Irmã






Eu tenho uma irmã. E nisso não tem nada de anormal... Mas hoje quero escrever sobre a nossa relação.
Ela nasceu em 02/11/1982 e ainda era uma criança quando em 01/07/1985 eu nasci. Ela nunca gostou da ideia de ter alguém com quem dividir a atenção da mamãe, os carinhos do papai, os brinquedos, os mimos, o quarto...
Eu mal tinha aberto meus olhos e ela ainda andava com alguma dificuldade quando me pegou no colo e saiu correndo feito uma desvairada. Os adultos que corriam atrás dela não foram capazes de alcançá-la. Então ela tropeçou e caiu sobre mim. Eu cortei o lábio, bati a cabeça e estava sangrando bastante. Ela, que nem se arranhou, saiu correndo para o colo da minha mãe no ímpeto de contê-la e impedir que ela me socorresse. Ela não me queria por perto.
Durante a infância eu atraia mais carinhos do que ela. Sempre fui muito doce e carinhosa. Ela sempre teve gênio forte e era muito independente. Eu era chorona e ela era irredutível.
Ela passou anos tentando me convencer que eu era adotada. Chegou a inventar detalhes sobre a minha suposta "mãe de verdade".
Ela me batia, eu tentava revidar mas sempre saia chorando. Ela apanhava do meu pai e eu chorava de pena. Depois apanhava dela, que precisava descontar sua raiva em alguém.
Nós fomos crescendo e nunca fomos amigas. Não havia um dia que passássemos sem nos agredir física ou verbalmente.
Lembro de ver minha mãe chorando uma vez querendo saber quando é que aquilo pararia.
Um dia, ela começou a trabalhar na Caixa Econômica Federal e, alguns meses depois, eu consegui um trabalho como aprendiz na mesma agência em que ela trabalhava.
No começo foi estranho ter outra relação com ela. Não éramos só irmãs, éramos colegas de trabalho.
Eu terminava o meu horário e ficava mais algumas horas esperando até que ela saísse. Então, íamos embora juntas.
Dali em diante nunca mais fomos inimigas. Eu passei a olhar pra ela com muita admiração e orgulho e ela não me via mais como a impertinente irmã mais nova.
Nós conversávamos, ríamos e nos divertíamos todo o tempo em que estávamos juntas.
Foi maravilhoso "conhecer" a minha irmã!
Agora ela era minha melhor amiga. Era minha irmã perfeita. Era meu exemplo. Era meu orgulho.
O tempo foi passando, ela teve namorados, eu tive namorados. As prioridades mudaram, o tempo livre ficou escasso... Mas ela sempre esteve lá, no quarto do lado ou, mais recentemente, no mesmo quarto. Eu sempre a via e, mesmo que ela estivesse dormindo, eu lhe dava um beijo de leve e dizia que a amava.
E, de repente, ela foi embora.
Não, não foi de repente. Eu a vi indo embora aos poucos. Ela mal ficava em casa e eu também estava ausente. Ela comprou um apartamento junto com o namorado, eles reformaram tudo, mobiliaram tudo e eu, mesmo tendo acompanhado todo o processo, ainda não tinha processado o que estava acontecendo.
E um dia ela veio em casa e levou todas as coisas dela embora. Eu sofri tanto quando abri o armário e ele estava vazio. Naquela ocasião escrevi:
"No quarto ouço apenas os meus suspiros chorosos. Posso me mexer na beliche, não tem ninguém dormindo na cama de baixo. No armário só o vazio. Na lembrança tanta coisa... Nunca mais brigas pela televisão ligada na hora de dormir, ou do perfume forte no quarto logo cedo. Nunca mais as conversas de fim de noite, os conselhos antes de dormir. Nunca mais o boa noite de todas as noite. Nunca mais o beijo na face já adormecida..
Agora ela mora em outra casa, logo vai construir uma outra família e estou feliz por ela.
Mas não consigo conter minhas lágrimas porque, até agora, parecia uma brincadeira.
Agora é real e dói tanto!"
Pra não sofrer tanto, ando meio distante. Mas o meu amor é, e sempre será, enorme e incondicional.
Afinal, ela é minha irmã e é a melhor irmã do mundo.

5 comentários:

Renata Fior disse...

Que linda esta relação, sou filha única e sofro muito por não ter com quem dividir tantas coisas...
Sou sua fã!
Bjão

Pri disse...

Oi Cláudia.. Td bem?... SOu amiga do Gabriel Monteiro... Entrei no seu blog e li tudo o que escreveu... Chorei qdo li "No quarto ouço apenas os meus suspiros chorosos. Posso me mexer na beliche, não tem ninguém dormindo na cama de baixo. No armário só o vazio. Na lembrança tanta coisa... Nunca mais brigas pela televisão ligada na hora de dormir, ou do perfume forte no quarto logo cedo. Nunca mais as conversas de fim de noite, os conselhos antes de dormir. Nunca mais o boa noite de todas as noite. Nunca mais o beijo na face já adormecida..
Agora ela mora em outra casa, logo vai construir uma outra família e estou feliz por ela.
Mas não consigo conter minhas lágrimas porque, até agora, parecia uma brincadeira.
Agora é real e dói tanto!" Tenho uma irmã mais nova e sinto q qdo uma de nós sair de casa.. esse será o sentimento... Deve ser MTO doloroso... Enfim... Gostei do seu blog ... Parabéns, moça. Bjaum

Veneninho disse...

Pri!
Obrigada pela visita!!
Uma hora a gente ia se separar mesmo... isso tá escrito! Mas se a relação for forte e houver uma ligação de amor, vai mudar pouca coisa.
O amor nunca muda e a gente - e vc e sua irmã tb - sempre estará muito próxima!
Beijinho

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Fernando Cesar disse...

Gostei do texto!!! bjo!!! bem triste!! rsrs